Por Roberto Mistrorigo Barbosa, coordenador do Círculo de Cooperação de Ponta Grossa da Iniciativa das Religiões Unidas (URI) e do Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB) da Diocese de Ponta Grossa
No alvorecer de um novo ano, a palavra “paz” ressoa como um eco profundo em nossos corações e consciências. Não é apenas um conceito ou distância ideal; é uma necessidade urgente, vital, para a sobrevivência da nossa humanidade e do nosso planeta. A paz não se constrói na ausência de conflito, mas na presença de justiça, solidariedade e cuidado com toda a criação.
Um Jubileu de Esperança e Renovação
A Igreja Católica, celebrando o Jubileu de 2025 sob o tema “Peregrinos da Esperança”, nos convida a olhar para o futuro com coragem e determinação. Desde os primórdios do jubileus, no século XIV, o perdão das dívidas e o recomeço marcaram estes momentos como tempos de profunda renovação espiritual e social. Hoje, o chamado é para que sejamos peregrinos, portadores de esperança em um mundo marcado pela desconfiança e pelo desespero.
O Papa Francisco nos recorda que a esperança é uma âncora, que nos sustenta em meio às tempestades da vida. No entanto, essa esperança não é passiva; ela nos impele a agir, a transformar e a construir. Ser peregrino da esperança significa caminhar com propósito, buscando a paz em todas as dimensões: entre os povos, com a natureza e dentro de nós mesmos.
O Grito da Terra e dos Pobres
Vivemos em um tempo de eventos climáticos extremos, um reflexo claro da destruição ambiental causada pela ganância e irresponsabilidade humana. Queimadas, secas, enchentes e o colapso de ecossistemas inteiros são sinais de que a paz também depende de como cuidamos da nossa “casa comum”. Como afirmou o Papa Francisco, “o dano que causamos à terra recai sobre nós”. Não haverá paz verdadeira enquanto ignoramos os clamores do planeta e das populações mais vulneráveis, que são as primeiras a sofrer com as consequências da nossa negligência.
Projetos simples, como a reciclagem, a economia de água e energia, e o consumo responsável, são passos concretos para vivermos em harmonia com a criação. Contudo, precisamos ir além: exigir políticas públicas sustentáveis, apoiar iniciativas comunitárias de cuidado com o meio ambiente e reavaliar nosso modelo de desenvolvimento.
Paz: O Sonho de Deus para a Humanidade
O Papa Francisco, em suas palavras ao Conselho de Segurança da ONU, lembrou que “a paz é o sonho de Deus para a humanidade, mesmo que esteja se tornando um pesadelo”. As guerras, alimentadas por uma indústria armamentista lucrativa e pela falta de fraternidade, destroem não apenas corpos, mas gerações inteiras. O dinheiro manchado de sangue inocente jamais poderá comprar a verdadeira paz.
Dizer “não” à guerra é dizer “sim” à vida, com a justiça, a igualdade e a solidariedade. Isso é romper com a lógica do lucro a qualquer custo e adotar a partilha como princípio. Como nos ensinou Jesus, o Reino de Deus é um Reino de pão, justiça e paz, onde a vida em todas as suas formas é valorizada e protegida.
Neste início de ano, sejamos inspirados pelo exemplo de tantos peregrinos da esperança que, ao longo da história, dedicaram suas vidas à construção de um mundo mais justo e pacífico. Que cada um de nós seja um ponto de luz, capaz de iluminar os caminhos da reconciliação, da cura e do cuidado. A paz começa em nossas escolhas diárias e se expande para nossas comunidades e para o mundo. Vamos viver com esperança ativa, com coragem para enfrentar as tempestades e com amor para transformar a realidade ao nosso redor. Afinal, a paz não é apenas o sonho de Deus para a humanidade; é também o chamado mais profundo de nossas almas.