[ domingo, 08 de junho de 2025 ]
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Mulheres negras no Brasil: mais desemprego, menores salários e maior sobrecarga de trabalho

Apesar dos avanços econômicos e da criação de empregos formais nos últimos anos, a desigualdade de gênero e raça segue sendo um dos principais desafios do mercado de trabalho brasileiro. Segundo o boletim especial Mulher chefia mais domicílios, mas segue com menos direitos e oportunidades no trabalho, publicado pelo DIEESE em março de 2025, com base nos dados do 3º trimestre de 2024 da Pnad Contínua do IBGE, as mulheres negras enfrentam os piores indicadores em termos de emprego, renda e condições de trabalho.

Desemprego e subutilização da força de trabalho

A taxa de desocupação feminina no Brasil foi de 7,7% em 2024, enquanto a dos homens ficou em 5,3%. No entanto, o recorte racial revela um cenário ainda mais crítico: a taxa de desocupação entre mulheres negras foi de 9,3%, quase o dobro da dos homens não negros, que registraram 4,4%. Além disso, 23,2% das mulheres negras estavam em situação de subutilização da força de trabalho, ou seja, estavam desempregadas, trabalhando menos horas do que gostariam ou impossibilitadas de trabalhar por razões estruturais.

Menores salários e maior desigualdade

A desigualdade de rendimentos é ainda mais acentuada para as mulheres negras. O estudo do DIEESE aponta que o rendimento médio das mulheres no Brasil foi de R$ 2.697 em 2024, enquanto os homens ganharam, em média, R$ 3.459. Entre as mulheres negras, essa média foi ainda menor: R$ 2.105. Já os homens não negros receberam R$ 4.536, ou seja, ganharam 115% a mais do que as mulheres negras.

Quando se observa os trabalhadores com ensino superior completo, a desigualdade se torna ainda mais gritante. O estudo revela que mulheres negras com diploma universitário ganharam, em média, R$ 3.964 por mês, enquanto os homens não negros receberam R$ 8.849. A diferença de R$ 4.885 comprova que, mesmo com maior qualificação, as mulheres negras seguem ganhando menos da metade do que os homens brancos.

A sobrecarga de trabalho e a dupla jornada

Além de enfrentarem as maiores dificuldades de inserção no mercado de trabalho e os menores salários, as mulheres negras ainda lidam com uma sobrecarga significativa de trabalho doméstico e de cuidados. Segundo o DIEESE, as mulheres brasileiras, em geral, gastam 21 dias a mais por ano do que os homens em tarefas domésticas. Esse cenário agrava ainda mais as barreiras para a ascensão profissional e a busca por melhores condições de trabalho.

Urgência de políticas públicas e equidade racial no mercado de trabalho

Os dados deixam claro que as mulheres negras são as mais penalizadas pelo modelo atual do mercado de trabalho brasileiro. Para mudar essa realidade, especialistas apontam a necessidade de políticas públicas que garantam equidade salarial, ampliação do acesso a empregos formais e melhores condições de trabalho para essa parcela da população. A recente Lei de Igualdade Salarial entre Homens e Mulheres (Lei 14.611/2023) pode ser um passo importante, mas os desafios ainda são enormes.

Enquanto as disparidades de gênero e raça persistirem, o Brasil continuará impedindo que milhões de mulheres negras tenham acesso pleno a direitos e oportunidades. O combate à desigualdade precisa ir além das estatísticas e se transformar em ações concretas para garantir um futuro mais justo e igualitário.

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